Aconteceu dia 04 de abril de 2023, a missa do Santo Crisma com a Benção dos Santos Óleos na Catedral Diocesana de São Mateus

Na missa de ontem (04/04) considerada a Unidade do presbitério em torno de seu Bispo, foi consagrado o óleo do Crisma, e abençoados o óleo dos catecúmenos e o óleo dos enfermos. Por ela, também, os padres renovaram suas promessas sacerdotais, assumidas quando de suas ordenações.

Somos, neste dia, de forma especial, intimados a rezar pelos nossos padres, para que a cada dia sejam fortalecidos e encorajados da Graça de Deus e realizem a sua missão à luz dos ensinamentos do próprio Cristo.

Na homilia deste dia, Dom Paulo, trouxe uma reflexão importe sobre alguns elementos de cunho pastoral que considera importante: REENVIAR, RECEBER, MOTIVAÇÃO, ENCANTAMENTO, AMAR SEMPRE, MESMO NA CRISE, HOMENS DE LUZ e POSITIVADE, todos, de alguma forma, carentes de ânimo novo, tão necessário à superação de um cenário pós pandêmico, regado por uma realidade que retrata a fome, miséria, tráfico, crime, homicídios e suicídios.

Leia a homilia do Bispo na íntegra:

Reverendíssimos e amados Presbíteros, Diáconos, Religiosos e Religiosas, Seminaristas, representantes das paróquias, autoridades constituídas ou representadas e todo povo santo de Deus. Minha saudação fraterna também aos irmãos e irmãs de outras denominações religiosas e aos queridos ouvintes da Rádio Kairós (a rádio da família) e demais meios de comunicação social.

Com o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor deu-se início a Semana Santa. A liturgia de hoje, da bênção dos Santos Óleos e da renovação das promessas sacerdotais é regada com o espírito da Semana Santa. Por necessidade pastoral a nossa Diocese celebra nesta terça-feira (04/04/23), mas muitas Dioceses celebram na Quinta-feira Santa pela manhã.

Nos anos anteriores, por diversas vezes eu trouxe em minhas reflexões alguns verbos para iluminar esta liturgia e a nossa missão. Hoje, também não será diferente. Diante dos grandes desafios provocados pela pandemia do Covid 19, pelo cenário político, fome, miséria, tráfico, crime, homicídios e suicídios, pela desmotivação pastoral de muitos, algo perceptível em minha visita pastoral e em outros momentos. A partir desta realidade, eu trago alguns elementos de cunho pastoral que considero

importantes:

1) REENVIAR: É preciso compreender o termo RE+ENVIAR como algo positivo e necessário. Dependendo do local em que você estaciona o seu carro, é preciso dar RÉ (voltar um pouco atrás) para depois seguir em frente com segurança. REENVIAR: significa tornar a enviar, devolver, reproduzir, refletir, repercutir. Existe uma gama enorme de palavras começando com a sílaba RE com uma conotação positiva. Exemplo: RECOMEÇAR, RECONSTRUIR, REPARAR, RENOVAR, RENDIMENTO, RETROSPECTIVA, REAPROXIMAR, REERGUER, RETOMAR, REMEMORAR, REENCANTAR, REDESCOBRIR etc. Existem diversas histórias e memórias, registros regados de valores que precisam ser retomados e reenviados para o crescimento da Igreja de Cristo. Esta era a pedagogia

de Cristo. Se no Antigo Testamento estava as promessas, em Jesus Cristo está a plenificação, ou seja, a concretização das promessas. Jesus recordava, atualizava e reenviava.

Principalmente no pós pandemia, as mensagens precisam ser reenviadas. As mensagens do Papa aos bispos, as mensagens do bispo ao clero e do clero ao povo de Deus. As formações sobre os sacramentos, as formações dos conselhos comunitários e paroquiais, as formações de liturgia e demais pastorais, movimentos e equipes de serviços, o projeto diocesano aprovado na assembleia diocesana em novembro de 

2019 que vai até 2024. Em muitas comunidades em minha visita pastoral são perceptíveis o desconhecimento do projeto diocesano, como funciona o Conselho Pastoral Comunitário (CPC), a estrutura eclesial, para onde vai o dinheiro do Dízimo e ofertas devolvidos a Deus em suas comunidades, até mesmo a dificuldade de entender o que é pastoral, movimento ou equipe de serviço etc. Sabemos, que praticamente quase todas essas formações foram oferecidas, antes da pandemia e algumas delas no próprio cenário pandêmico, não sabemos o que houve: se chegaram lideranças novas ou se está sendo simplesmente um descuido ou descaso do que aprendemos na base ou em nossas formações, uma coisa eu tenho certeza: precisamos reenviar esses conteúdos urgentemente, sem perder o encanto e alegria por estarmos repetindo.

Infelizmente ou felizmente, continuamos na era da repetição. É um rito que os educadores e os pais repetem todos os dias na arte de educar. É algo repetitivo e cansativo, mas necessário, quase todos os dias repetem a mesma coisa. Filho, não coloque a toalha molhada sobre a cama ou sofá, meu bem não deixe a roupa suja em qualquer lugar, coloque-as no cesto etc. Na Igreja doméstica é uma rotina cotidiana, não será diferente na Igreja comunidade.

2) RECEBER: É uma espécie de um casamento entre o reenvio e o recebimento. Receber uma pessoa, uma mensagem, um comunicado, uma ordem, receber um dinheiro e administrá-lo bem, receber uma missão, receber um prêmio, receber críticas, desafios, etc. Tomar “posse” do que lhe é oferecido. Como recebo uma mensagem do Papa, do bispo, do próprio Cristo ou de alguém que às vezes vem ao encontro do que penso ou às vezes completamente o contrário? Como recebo e administro aquilo que vem do outro?

O contexto sombrio atual nos desafia em não abraçar uma proposta e colocar em prática algo que vem do outro e às vezes até mesmo da coletividade, de uma experiência sinodal. Para nós cristãos católicos, às vezes, temos dificuldades de assumir algo que construímos juntos. Se não tiver a minha assinatura pessoal no rodapé eu não abraço a ideia ou o projeto. Por que será que isso acontece? A liberdade de expressão compreendida erroneamente está levando as pessoas a perderem o respeito ao outro, às instituições, pessoas ou entidades do bem. Tudo tem que ser do seu ou do meu jeito. O Papa tem que ser do meu jeito, o Bispo tem que ser do meu jeito, o Padre tem que ser do meu jeito, o fiel tem que ser do meu jeito, a Igreja tem que ser do meu jeito. Até o próprio Jesus tem que ser do meu jeito. Existem pessoas fazendo de Jesus um objeto de manipulação. Jesus tem que fazer o que eu quero e determino. Quando é que eu, você, nós fazemos a vontade de Deus ou do próprio Cristo? Quando é que vou acolher o valor que vem do outro sem murmurar ou questionar? Quando é que vou parar de reduzir o outro ao meu próprio conceito?

Se Jesus tivesse que voltar a sua vida pública nos dias de hoje, Ele não teria a graça ou o prazer de vivê-la em três anos. Seria morto no primeiro ano. E provavelmente, não seria por alguém de fora. Nem Ele e nem suas propostas seriam acolhidas.

3) MOTIVAÇÃO: no bailar dos termos REENVIAR E RECEBER faz-se necessário outro termo: MOTIVAÇÃO. Motivação é um impulso que faz com que as pessoas ajam para atingir seus objetivos. A motivação envolve

fenômenos emocionais, biológicos, sociais e é um processo responsável por iniciar, direcionar. Motivação é o que faz com que os indivíduos deem o melhor de si, façam o possível para conquistar ou atingir os objetivos. A motivação é um elemento essencial para o desenvolvimento do ser humano e para a aplicabilidade de um projeto pessoal ou coletivo. Não se mudam as pessoas apenas mostrando os seus erros ou afirmando, que estão desmotivadas. Elas têm de ver em nós um exemplo de motivação.

4) ENCANTAMENTO: Por diversas vezes eu já refletir sobre o termo REENCANTAMENTO. Hoje, eu desejo falar de ENCANTAMENTO mesmo. ENCANTAMENTO é um ato de encantar ou de se encantar. Em meio a crises, desafios e conflitos, o encantamento dos líderes religiosos e das lideranças leigas é fundamental para a continuidade da missão. O nosso encantamento irá reencantar as pessoas que se afastaram da missão e encantar aquelas que nunca entraram. O encantamento é uma das peças fundamentais, para que o motor engrene e a viagem continue. Em tempo de grandes desafios é necessário nos mantermos encantados por Jesus e por sua Igreja, seguindo seus passos e o que diz o Magistério da Igreja ou cairemos no precipício da negatividade e da falência.

5) AMAR SEMPRE, MESMO NA CRISE: O amor é o sentimento mais difundido no mundo. O amor é o mandamento mais conhecido em todo o universo. O amor é a ação mais praticada no mundo, mais do que o ódio, a vingança, a violência e tantos outros sentimentos. O amor é o nome do Deus cristão (1Jo 4,8). Os românticos têm o amor em suas canções como palavra preferida. Os pais vivem para amar. Os sábios têm o amor como a palavra-chave. Os mártires morrem por amor (cf. DP). O presbítero se embriaga do amor, porque é chamado e enviado para amar.

O amor é a seiva de uma vida autêntica e verdadeira na vida do presbítero e de cada cristão. Só o amor constrói e liberta para a vida plena. Só o amor conduz à vida feliz junto de Deus. O amor é a única virtude que permanecerá para sempre. O amor é a síntese de tudo na vida do presbítero e em sua missão. Segundo São João Maria Vianney “O padre é o amor do coração de Jesus”. Não podemos deixar que se inverta a tabela. O amor tem que estar na primeira página. O amor supera o ódio. O bem vence o mal.

No Evangelho de hoje (Lucas 4,16-21),

(“Anunciar a boa nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos, recuperar a vista aos cegos, libertar os oprimidos e proclamar um ano da graça do Senhor”), são

Jesus faz recair sobre si mesmo o

cumprimento da palavra do profeta Isaias, dizendo “cumpriu-se hoje mesmo”. Com esta afirmação e tomada de consciência mostra que ele está revestido, ungido pelo Espírito, para realizar a missão que o Pai lhe confiou. As palavras do profeta Isaías

um programa de vida para Jesus, que ele vai concretizar com gestos e palavras em

seu ministério, mas também vai atribuir aos seus seguidores. “Assim como o Pai me

enviou, eu também vos Envio” (Jo 20,21).

O programa de Jesus é o programa da Igreja e dos seus membros. Todos nós fomos ungidos pelo mesmo Espírito, para oferecermos a nossa vida pela mesma causa. Os gestos dos membros desta Igreja de Cristo hão de repetir os gestos de Jesus pela humanidade inteira. A palavra do profeta Isaias concretizada em Jesus também se

cumpre no “hoje” da Igreja, pelo testemunho de cada cristão.

Em João 18,12 Jesus nos diz: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida (Jo 8,12)”. Mateus em seu Evangelho 4,16 também nos diz: “O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz e aos que estavam detidos na região e sombra da morte, a luz raiou” (Mt 4,16). Não podemos cair nas armadilhas das trevas, da negatividade. Somos homens de luz e da esperança. Não podemos entrar no mundo das lamentações e da melancolia. O povo espera de nós luz e esperança. A nossa presença e missão devem estar sempre num candeeiro, para iluminar a todos e não debaixo de uma vasilha. Em cada manhã, eu devo renovar o propósito de ser luz e caminhar na luz de Jesus junto com os irmãos e irmãs na fé. É necessário estreitar os laços e fortalecer a comunhão entre nós, pois JUNTOS SOMOS MAIS FORTES.
 
7) POSITIVIDADE: Amados irmãos e irmãs, a missão de Jesus é a missão de todos nós. Deixar de lado as críticas e partir para as propostas, deixar de lado as lamentações, desilusões, a negatividade e começar a mudar o que está ao meu alcance, deixar de lado o comodismo e ter uma vida de iniciativas, deixar de lado o medo e acreditar que o mundo pode ser melhor se eu mudar. Por onde vamos começar? Por
nós mesmos. Eu só mudo o outro e o mundo, se eu mudar a mim mesmo primeiramente. Resistir ao mal com o bem, não responder a insultos, distribuir gentilezas gratuitamente, estimular a solidariedade nas relações interpessoais (na casa, no trabalho, no lazer etc.), nos grupos, exercitar a paciência, valorizar as qualidades, criar laços de fraternidade em todos os ambientes. Enfim, levar a paz e o
amor em todos os lugares por meio de gestos concretos (Cf. Apolônio C. Nascimento).

Uma Igreja organizada no amor e na positividade, harmoniza a convivência de tal modo que o ódio não encontra mais espaço, pois a prática do bem gera a paz e vence o mal, evita os conflitos e apontam caminhos de luz e esperança. Concluo com um pequeno exemplo, que acontece cotidianamente na vida das pessoas: quando vamos à feira, a barraca que mais vende, nem sempre é a que tem os melhores produtos, mas sim, a que faz a melhor propaganda. A propaganda é a alma da missão. Nós temos em nossas “barracas” o melhor alimento: Jesus Cristo. Ele ó Pão vivo descido do

Céu e está vivo no meio de nós e precisa ser divulgado. Não fiquemos somente nos “petiscos”, entremos na festa e participemos do banquete, para que estejamos alimentados o suficiente, pois a missão é árdua e temos um caminho longo a percorrer. Por uma Igreja Sinodal, vamos caminhar juntos e divulgar melhor Jesus e o seu Evangelho. Positividade sempre. O sucesso da missão é manter os pés no chão, o olhar no Céu, encantamento, positividade e boa divulgação.

Assim seja. Amém!


  DOM PAULO BOSI DAL’BÓ
BISPO DIOCESANO

 
 

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