Formação Litúrgica, Ficha 64: Celebração da Palavra de Deus (IV)

CELEBRAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS (IV)
Formação Litúrgica em Mutirão - CNBB - rede celebra - revista de liturgia
Ficha 64

Ir. Veronice Fernandes

O DIÁLOGO ENTRE OS PARCEIROS DA ALIANÇA

Ao celebrar, a assembleia dialoga com Deus que fala ao seu povo e, responde a Ele com cantos e orações (cf. SC 33). Desenvolve-se, então, um verdadeiro diálogo de Deus com seu povo reunido, um colóquio contínuo do Esposo e da Esposa.

A liturgia lembra constantemente a palavra revelada e, desta forma, evoca e atualiza os feitos salvíficos de Deus. O lembrar, faz com que a comunidade conheça a vontade de Deus, o que ele quer, seu projeto de salvação. Então, nasce a resposta à palavra de Deus, ou seja, o louvor, a ação de graças, a súplica, a intercessão, os gestos e as ações simbólicas. Assim, sob diversas formas, o Senhor da aliança, "ora interpela, ora ensina, ora exorta, ora 'diz e faz'. Por sua vez, a assembléia escuta, responde, medita, suplica, dá graças até se identificar com a palavra que, vinda do Pai, volta para se unir a ele numa comunhão eterna".

A dinâmica celebrativa das celebrações litúrgicas nos insere na lógica da revelação. Deus chama, reúne, e a comunidade, atendendo ao seu chamado, se apresenta e responde.

A celebração litúrgica, no seu conjunto, possui uma estrutura de base que favorece o diálogo: a liturgia da palavra e a liturgia eucarística. A Sacrosanctum Concilium, falando sobre a celebração eucarística afirma que "liturgia da palavra e liturgia eucarística estão tão unidas que formam um só ato de culto" (cf. n. 56). Numa relação de aliança os dois momentos estão estreitamente unidos: a palavra constitui o momento do contrato, através do diálogo e a liturgia eucarística o momento em que a comunidade, cheia do Espírito, dá sua resposta e sela o compromisso com Deus. A palavra é então fundamento sobre o qual a aliança se firma.

A própria liturgia da palavra possui uma dinâmica dialogal: Deus fala nas leituras (AT, NT e Evangelho) e a comunidade responde, cantando o salmo responsorial, elevando suas súplicas ou agradecimentos, professando a fé... Temos também a homilia que apresenta a proposta de Deus e também a resposta da comunidade. Com razão, a Sacrosanctum Concilium e o Ordo Lectionum Missae valorizaram as leituras bíblicas, o salmo responsorial, a aclamação, a homilia, o silêncio, a profissão de fé e a oração dos fiéis.

A DIMENSÃO SIMBÓLICO-SACRAMENTAL DA PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS

O leitor ou a leitora ao proclamar a palavra de Deus na celebração litúrgica está realizando um gesto simbólico-sacramental. É o próprio "Cristo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja" (SC 7). Para fazer experiência da Salvação que a palavra anuncia e realiza, a liturgia se serve de sinais sensíveis (cf. SC 7).

Os sinais sensíveis evocam, revelam e manifestam a "outra realidade" (o mistério da nossa salvação que tem como centro e fundamento o mistério pascal de Cristo). Mais ainda, os sinais sensíveis realizam o que significam. A significação não acontece automaticamente, depende da preparação dos leitores, da assembleia litúrgica, do lugar da proclamação da palavra, ou seja, dos sinais sensíveis.

Perguntas para reflexão pessoal e em grupos:

  1. A celebração da Palavra de Deus é um diálogo entre Deus e a assembleia. Como isso acontece?
  2. Cristo fala quando se lêem as escrituras. A sua comunidade tem consciência disso? Com que gestos e atitudes demonstra?
  3. Qual deve ser a atitude do leitor ou leitora quando está fazendo a proclamação da Palavra de Deus?

* Artigo publicado na Revista de Liturgia, São Paulo, n. 179, 2003, p.4-9

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